quarta-feira, 9 de março de 2011

Minha carne é de carnaval, meu coração é igual...

Quanto ao pano dos confetes... Meu carnaval não passou. Aprendi a permanecer carnaval. Mas afinal, o que é mesmo carnavalizar? Meu coração deixou-se invadir de alegria nesses últimos tempos. De vivacidade sobre a minha própria vida... E é muito engraçado, que a festa momesca ainda estava por vir, mas, aquela história meio clichê de que o universo conspira a favor de quem se permite favorecer é bem verdade sim. Eu andei constatando mesmo, que o meu olhar diferente sobre as vicissitudes, sobre as peças do quebra cabeça Cotidiano desfizeram e desfazem essas mal traçadas linhas de um caminho meio “Gabriela”. Não foi sempre assim e não será sempre assim. Será sempre muito imprevisível... Dependerá muito de como se percebe, de como se sente e principalmente, de como se oportuniza outras perspectivas. Haverá muitas cinzas de quarta, que cairão em qualquer dia deste ano que se mostra. Mas o que interessa mesmo é o que você irá fazer com elas. Eu prefiro jogá-las no ar, para que elas se misturem à outras cores e se façam mudar de cor. Eu prefiro me entregar ao acaso, que nem sempre vai me proteger... Mas, andar distraída me deixa mesmo mais atenta.  E o seu carnaval? Que dia vai deixá-lo chegar?

De mulher para mulheres... Mas para homens muito mais:


AVISO DA LUA QUE MENSTRUA [ELISA LUCINDA]

Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
Cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
Às vezes parece erva, parece hera
Cuidado com essa gente que gera
Essa gente que se metamorfoseia
Metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
E ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
Mas é outro lugar, aí é que está:
Cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita..
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
Que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
Transforma fato em elemento
A tudo refoga, ferve, frita
Ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
É que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
É que tô falando na "vera"
Conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
Delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
Ou sem os devidos cortejos..
Às vezes pela ponte de um beijo
Já se alcança a "cidade secreta"
A atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
Cai na condição de ser displicente
Diante da própria serpente
Ela é uma cobra de avental
Não despreze a meditação doméstica
É da poeira do cotidiano
Que a mulher extrai filosofando
Cozinhando, costurando e você chega com mão no bolso
Julgando a arte do almoço: eca!...
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado
Tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
Então esquece de morder devagar
Esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
Chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
Vaca é sua mãe. de leite.
Vaca e galinha...
Ora, não ofende. enaltece, elogia:
Comparando rainha com rainha
Óvulo, ovo e leite
Pensando que está agredindo
Que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o princípio do mundo!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010



Pulsa o coração, mas o corpo todo sangra.
A alma estremece, a mulher sobressai... Em beleza, em dor, em paixão.
Cresce um desejo, uma vontade de se dar, de se perder achar.
Um lugar de conforto subitamente desconforta.
Ela expulsa o lugar. E no lugar, experimenta outros e outros tantos.
Perde a compostura, vem perdendo a rigidez... Entrega-se, se deixa ser.
Essencialmente ela agora está. Não suporta mais as grades.
Se a paixão lhe impõe, dane-se então! Se apaixone por ela e ela é a vontade de seguir.
Caso contrário, solte-a. Ela não fica. Ela precisa ir.

E ela vem chegando...


Sentiu seu corpo seduzir outro. A mulher apareceu numa leveza que nenhuma palavra se arrisca a descrever. Ela veio dançando, sorrindo, brincando, mas sem perder a novidade da brejeirice na meninice. Fitou uma guia de Ogum... Aquilo de fé lhe chamou atenção. Será porque não tinha muita? Pôs-se a crer naquele instante. Resistiu ao seu próprio poder, mas não segurou a onda... Permitiu-se gozar nos olhares de querer. Quis e teve. A pele, o cheiro, a boca, o corpo. Teve tudo que se quis. Se há de querer e de ter amor é o tempo que dirá. Mas o tempo já lhe ensinou a ser mulher. E vejam só! Olha ela ai vivendo e sentindo a vida acontecer sem pressa e sem medo.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

"... Você é um amálgama excepcional de forças veementes... Nós não falamos em termos de responsabilidade. Assim, muitos fatores estão mediando. Fomentando. Promulgando. CADA UM É DIFERENTE. Um bilhão de pequenas coisas despercebidas pelo objeto de sua influência... Elementos negativos e positivos lutam, e nós só podemos olhar para eles, e nos maravilhar ou lamentar. Algumas vezes, você pode ver um caso claro de confronto entre anjo e abutre."
(Saul Bellow)

Nesse belo e eterno confronto aprendo que sou de carne e osso. Graças a Deus! Muito mais, infinitamente mais do que a soma das partes. Um dia há de se conviver respeitando os seus espaços e sendo felizes. É... felizes acho que não! Mas compreensíveis talvez.


sexta-feira, 13 de novembro de 2009



Ainda que muito difícil, ela não paralisou mais ao se mostrar. Ser desnudada assim tão subitamente, não lhe é de costume. Mas assim a vida fez, só pra lhe mostrar mais uma vez, que arriscar é preciso, mesmo que para isso, ela necessite penosamente, cair infinitas vezes para seguir de maneira mais firme.
E foi numa dessas que ela chorou. Chorou ao se dar conta da imensurável dor das quedas. Paradoxalmente, aquelas lágrimas também eram de uma estranha alegria... Surgiu então em seu pensamento uma conclusão inesperada: “é... agora eu posso me ver!”. Essa possibilidade também a fez ser vista como nunca antes.
Em alguns momentos no decorrer da sua história meio apagada, ela se esbarrou em oportunidades parecidas como aquela, mas, de fato, nunca sentira aquela coragem de forma tão consciente como naquele dia. Agora era ela uma mulher cuidando de sua criança ferida... E podia ver isso.
Nessa de pensações e sensações, um frio arrepiou os seus pelos porque foi percebido que até então, não se tinha lugar. Os lugares que se ia, sempre e inexoravelmente eram os que permitiam a ela – e que ela ia sem pestanejar. Assim, consequentemente havia ali uma omissão de responsabilidade em impor-se como ela essencialmente era. Uma responsabilidade sobre si mesma.
Hoje ela caminhou e caminha bastante, apesar de nela (de) morar ainda uma amarga culpa. Ainda precisa aprender a se perdoar, a se aceitar também em seus erros... Desafrouxar carinhosamente, afetuosamente os seus laços, sentindo os seus mais tenros nós. E assim poder ser mais livre.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Sereu.

Tenho sonhado com tempestade... Uma amiga acha que são as reviravoltas que andam acontecendo. Mas o certo é que ando mesmo envolta num caos. Tudo ao mesmo tempo. O medo, as surpresas, as superações, as decepções, as desconstruções, as construções e as reconstruções. Ficar nessa casa vazia vem me enchendo de possibilidades. As diversas formas de ser uma... Sem largar a mesma, ainda que por apego inseguro. Assim nesse barco venho me levado para caminhos nunca imaginados. Tenho olhado para trás e percebido que andava adormecida e a sensação é de acordar com o sol batendo na cara... Chamando a acordar. Entristece perceber que só abri a janela agora, mas não tem como voltar no tempo, refazer o nunca feito. Não há mais chance.
E é nesse fogo que venho colocando minha mão. E nesse temor de ser capaz, tenho sido. Surpreendente como não me conheciam. Mas também eu não conhecia a mim então quem mais poderia? Não é mesmo?! (a la Regininha!). Agora eu sigo. Respiro fundo... Não seguro mais meu lado sombrio. Resolvi deixar sair! Minha máscara de boazinha anda indo embora e tenho percebido que não preciso mais dela. Posso ser má de vez em quando, dizer não quando em vez... E ainda sim, ser amada até por mim. Serei boa quando isso for real. E só assim. Quando o coração pedir, quando eu sentir que é pra ser. De resto, danem-se. Serei o meu samba, o meu medo de raio, meus vestidos curtos, minha desatenção, meu choro desatado, minha cara distraída, meu riso desmedido, meus amigos, minhas incertezas e meus calundus. Serei a minha própria cachaça.
Só assim eu posso estar nesse lugar que chamam de mundo. Com licença, por favor... Eu quero entrar! Entrei. E quem quiser também, puxa o banco que a casa é grande e é toda nossa.